Meu Caminho de Santiago

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Iniciando o Caminho de Santiago, antes de caminhar (Chegada ao Cebreiro)

Saí de Recife para Lisboa, e já emendei numa conexão para Madrid, que sofreu um atraso de quase 50 minutos. Devido a isso, tive que correr para o portão de embarque do próximo voo, com destino a Santiago de Compostela (STG). Apesar da correria, consegui embarcar a tempo. O voo de Madrid para Santiago de Compostela foi tranquilo, mesmo com o atraso do voo anterior. A experiência de voo foi excelente e ajudou a compensar a pressa que tive em Madrid. Tive que chegar para a caminhada, na própria Santiago de Compostela.

Chegando de avião em Santiago de Compostela e, para o trajeto até O Cebreiro, contratei um motorista. Héctor, que me esperava no aeroporto, realizou a viagem de cerca de 2 horas de forma confortável e agradável. Durante o trajeto, tivemos uma conversa interessante. Héctor, nascido na Venezuela e com estudos na América, se mudou para Compostela após a chegada de Chávez ao poder. Falamos sobre diversos assuntos, incluindo sua visita ao Rio de Janeiro, onde teve um relógio roubado durante o carnaval no Sambódromo. Também discutimos suas preferências por vinhos brancos no verão e comparamos os preços de restaurantes em Recife e João Pessoa com os de Santiago.

Cheguei a O Cebreiro por volta das 19h30. Após deixar a mochila no hotel, saí para jantar, degustar algumas taças de vinho, dar uma breve caminhada e retornar ao hotel para descansar. Foi essencial ter uma boa noite de sono, pois o dia seguinte prometia um percurso de 22 km.

Enquanto desfrutava da minha primeira noite em O Cebreiro, sentia falta de Marcinha, Alice (que estava doente em Recife) e Vini. No entanto, estava confiante de que a experiência valeria a pena.

O Primero dia: O Cebreiro – Triacastela

Acordei cedo (6h da manhã, ainda escuro), claro. 

Ansiedade define esse início de caminhada. Será que conseguirei fazer todo percurso planejado? E a mochila, sentirei muito o peso? Tratando tudo isso como muito natural. Confiando na preparação que fiz.

Esperando agora, dar 8h30, pra passar na igreja, comprar minha credencial do peregrino, colocar o primeiro carimbo, e partir. No final das contas, a igreja abria 9h30, então tomei um café mais reforçado e parti pra caminhada depois de carimbar a credencial.

De O Cebreiro para Triacastela, são quase 22km. No início a animação toma conta da gente, as paisagens são lindas e fazem toda diferença. Quando começam a surgir as primeiras subidas mais íngremes, e tem algumas nesse trecho, a mochila começa a pesar mais. Escutei música em alguns momentos, pra sentir menos o cansaço do primeiro dia. Não encontrei mais do que 10 pessoas ao longo do trajeto. Lá pelos 15 km, os pés começaram a reclamar mais, e a mochila parou de pesar. Me arrependi de ter feito o trajeto direto, sem parar pra comer. Só parei pra comprar algumas águas e comer um pouco de biscoito.

Chegando em Triacastela, depois de 5 horas caminhando, sentei direto num restaurante (Complexo Xacobeo) e pedi o menu do peregrino (Caldo Galego e Bisteca de Terneira) com vinho e pão – E$ 13,00.

O hotel, consegui reservar ainda quando estava caminhando, e foi o que tínhamos pesquisado no planejamento (Iberik Hotel). Depois de um bom banho, cai na cama e dormi até 18h30. Daí fiquei no quarto descansando, e me preparando pra o trajeto do dia seguinte.

O Segundo Dia: Triacastela – Sarria

O dia começou fechado e com chuva. 

Café da manhã no hotel e uma sensação de febre. Depois de alguns alongamentos e do banho, descansei um pouco antes de sair. Tomei remédio pra melhorar a sensação de gripe e febre, aguardei a chuva dar uma trégua, e sai com uma leve garoa as 10h30. Música nas alturas pra animar esse início de caminhada.

Já nos primeiros passos, os remédios e a música fizeram efeito, e pude dar início a uma jornada de pensamentos e ideias, que já estão anotadas. Chegando em Samos, pude ver o mosteiro, mas infelizmente estava fechado e não pude fazer uma visita interna. Depois, por indicação de Roberto (meu cunhado), almocei no Ponte Nova, já na saída da cidade. Aqui entrei em dois bares/cafés mas como não fui bem recebido, não fiquei pra comer. O Ponte Nova estava me chamando. Fiz uma refeição do peregrino, mudando o prato principal pra carré de cordeiro, além das tradicionais 2 taças de vinho. Paguei 23 euros. Até no interior da Espanha, o Ponte é diferenciado. Depois do banquete, me arrastei por mais 14km pra poder chegar na próxima parada, Sarria. As dores nos pés deram uma trégua e só apareceram nos últimos quilômetros, e consegui administrar bem.

Chegando em Sarria, comprei uma água e um Bocadilho, no próprio supermercado, e jantei no quarto do hotel.

O Terceiro Dia: Sarria – Portomarin

Me organizei e consegui sair às 8h30. 

Comi 2 bananas durante a caminhada, até o km 10, e foi quando parei pra tomar café (um misto quente e uma xícara de café com leite). Funcionou muito bem. Fiquei bem até o km 17, quando meu pé começou a doer novamente, de forma muito intensa. Continuei a caminhada, até a cidade seguinte que estava planejado, Portomarin, mas abortei a ideia de encurtar esse percurso final em 1 dia. Mantive o pensamento inicial de chegar na segunda em Santiago, antes das 12h, pra pegar a missa do peregrino. Como sai mais cedo, e iniciei o percurso dos últimos 100km, que é a distância necessária pra obter a Compostelana, hoje tive bastante companhia durante a caminhada, diferente dos outros dias. Bela paisagem, com uma chegada linda em Portomarin. Descansei e fui rodar um pouco na cidade, jantar e voltar pra cuidar do pé, e ver se ele não dói tanto amanhã.

O Quarto Dia: Portomarín – Palas del Rey

Saída mais desafiadora de todas. 

Em baixo de chuva, e com algumas subidas maiores nos primeiros quilômetros. Me questionei algumas vezes que diabos estava fazendo aqui. Depois que parei de pensar na chegada, e foquei no caminho, com a música ajudando bastante, esse questionamento saiu do pensamento. No km 12 parei pra comer um sanduíche e um café com leite e a partir daqui o caminho foi mais sereno e a chuva deu uma trégua. Com sol, o caminho é diferenciado. Antes de chegar a Palas de Rey, ainda tomei um chope pra recarregar as energias e cheguei bem tranquilo na cidade. Jantei um menu do peregrino com tábua de embutidos e bife de terneira com batatas fritas. Além do vinho pra relaxar.

O Quinto Dia: Palas del Rey – Arzua

Hoje foi um dos dias mais tranquilos, apesar dos 28km. 

Muitas subidas e descidas, claro, mas como não choveu e já estou nessa pisada há 4 dias, terminou que me acomodei bem no desafio. Saindo com uma fruta e depois dos 10km, parada pra um sanduíche e um café com leite, já me deixa tranquilo. Muita contemplação e reflexão. O caminho realmente se apresenta para que possamos resolver nossos problemas, enfrentar nossos demônios ou apenas curitr o momento.

Depois, uma cerveja no km 20. Me animei pra fazer 39 amanhã, e já chegar a Santiago. Aguardemos.

O Sexto Dia: Arzua – Pedrouzo – Santiago de Compostela

Cheguei em Santiago de Compostela.

Hoje foi dia de se superar. Previsão era de fazer 20km até Pedrouzo, e só fazer os outros 20km amanhã. Mas como acordei cedo e estava muito energizado e animado, fui pro bom combate. Tomei um café no hotel com ovos e torradas, queijo, presunto e café com leite, e sai às 8h. 

Muita neblina mas céu aberto. Fiz estes primeiros 20 km, com certa tranquilidade, escutando minha música e apreciando o caminho. Cheguei em Pedrouzo às 12h, já com um céu aberto e lindo, até com um certo calor. Comi uma hamburguesa e tomei uma coca normal. Descansei um pouco e parti pra mais alguns quilômetros. Meta era ficar uns 10km de Santiago. 

Mas o fim do Caminho estava me chamando. Foi acontecendo, primeiro foram 5, depois 10km. Parei, tomei um chope, e me animei pra continuar. Cheguei em Santiago as 17h, depois de quase 9h de caminhada. 

Que sensação espetacular de dever cumprido. Rodei um pouco pela cidade, peguei meu certificado e fui pro hotel. Tomei um banho e voltei pra conhecer a catedral. Sai, e quando fui voltar pra missa, estava lotada já. Deixei pro dia seguinte.

O Sétimo Dia: A Missa do Peregrino

Acordei cedo, e como já tinha antecipado meu voo, e cancelado a reserva do hotel para o dia seguinte, andei pela cidade e fui assistir a missa do peregrino na belíssima Catedral.

Uma mistura grande de satisfação, emoção e saudade de minha família. A missa é linda, carregada de simbolismo. Gratidão é o sentimento!

Espero com este meu breve relato, incentivar pelo menos um leitor, a realizar o Caminho de Santiago. Nada é impossível, quando queremos de coração.

Bom Caminho!

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